O amor é sacana.
Ninguém está imune.
Ninguém confere certidão de casamento, de nascimento ou de óbito para se envolver.
Vai virar o rosto para os compromissos.
Não queremos nos apaixonar e nos apaixonamos.
O cara não presta e seguimos em frente.
Contrariamos os próprios conselhos porque o amor é sacana.
Contrariamos as crenças porque o amor é sacana.
O amor abre até as portas deitadas.
Acredito que existe o conto de fadas do canalha, versão adulta e pornô do Patinho Feio.
A mulher percebe que o sujeito não é flor que se cheire, fala para todo mundo da aversão ao
comportamento dele, um tanto machista e presunçoso.
Nota que sai com diversas mulheres, uma em cada noite.
É o típico homem que sofre da infidelidade congênita.
O que ela faz?
Era de se esperar que mantivesse distância.
Entretanto, ela se apaixona.
Não há vacina ao desejo, A mulher bebe do veneno para apressar a cura.
É tomada de uma fúria santa, doida, inexplicável pelo canalha.
A hostilidade atrai, inquieta, desestabiliza.
Não, ela não deseja o canalha, é capaz de desejá-lo durante uns dias, pela vida inteira não.
Confia que será diferente com ela.
Ela salvará o canalha.
Ele foi canalha porque não a conheceu antes.
Canalha Antes de Cristo.
Aposta alto com as armas que dispõe, o ciúme e a posse.
Bate ainda um orgulho competitivo de mostrar às ex do canalha que conseguiu corrigi-lo.
Só mulher entende esse duelo de memórias, essa vingança velada e implícita.
O canalha tampouco ambiciona ser viúvo de seus vícios.
Espera receber alta, pode não conseguir, pode tentar e fracassar.
Dorme pouco para não perder a chegada da paz de manhã.
Espera uma paixão redentora para reaver a adolescência e voltar a sentir o tremor das pernas.
Anseia superar a indiferença que o impele a dispensar as mulheres e abreviar os relacionamentos.
Aguarda ter novamente a insegurança das palavras, o risco de ser magoado e magoar.
O canalha está cansado de sua reputação, do esforço para manter a fama de cafajeste, da rotina de não se importar.
É difícil, é raro, duro de suportar, mas o maior amor, o amor mais leal e puro, pode vir de um canalha arrependido.
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